Daqui a mais ou menos mês e meio faz 30 anos que trabalho nesta empresa, a grande maior parte deles 9 horas por dia, 5 dias da semana. Desde os 18 anos. Antes disso, trabalhei dois anos numa papelaria. Entre os 16 e os 18.

Começo a ficar cansada. Para poder ter uma reforma razoável, apesar do que já fiz, ainda me exigem uma data de anos. E depois vejo colegas que se reformaram ou pré-reformaram com menos anos de serviço e às vezes de idade rejuvenescidos. Reformas por uma invalidez que desaparece no dia a seguir a irem para casa.

Há piores que eu? Há. Claro que há, e bem piores. Mas desculpem o desabafo, há alturas em que só consigo olhar para mim e para o meu cansaço.

Os inícios de manhã lá em casa são relativamente fáceis. Ninguém tem grande dificuldade em levantar-se, mesmo quando está mais frio, basta um estore levantado e um "Bom dia! Está na hora!". Com maior ou menor velocidade, lá se vai saindo da cama, lá se vai tratar da higiene. Enquanto os pequenos tomam o pequeno-almoço com o pai, trato dos lanches e da roupa que vestem nesse dia. Pai sai, mãe trata dela enquanto os miúdos se vestem. Passo seguinte, levar os miúdos à escola e ao ATL, de carro que a escola agora é mais longe.

Depois de beijos e desejos de um dia bom, começa o meu momento Zen da manhã. Como ainda há tempo mais que suficiente para apanhar o autocarro, regresso a casa e tomo o meu pequeno-almoço e o meu café em silêncio. Só eu e os gatos, que dormem à janela.

Está na hora. Fechar a porta e subir a rua para esperar o autocarro na paragem.

Os inícios de manhã lá em casa são relativamente fáceis. Já os fins de tarde são relativamente menos fáceis.

Olá. Escrevo-te para te dizer o quanto gosto de ti. Para te dizer que, ao contrário do que pensas e dizes, és extraordinária.

A tua auto estima não é das melhores, mas aqui estou para te dizer que olhes à tua volta e vejas os amigos que tens e que realmente gostam de ti. Gostas do que vês? Ainda bem, isso significa que importas, que tens valor, que és amada.

Os últimos tempos não têm sido fáceis, eu sei. Mas lá está, tanta coisa menos boa tem acontecido ao longo destes anos e estás aí, de pé, pronta para enfrentar o que vier.

Vamos conseguir. Vamos envelhecer juntas, celebrar vitórias, chorar derrotas, rabujar uma com a outra de vez em quando. E daqui a muitos anos,  já meias enquerquilhadas, recordar isto tudo com a sensação de termos vivido uma vida plena, longe de perfeita mas bem vivida.

Um beijo

Mana mais velha

Escrever mais. Ler mais. Passear mais. Dormir mais. Sorrir mais. Crochetar mais. Abraçar mais. Conversar mais. Confiar mais. Aprender mais. Cuidar de mim mais. Fazer mais. Viver mais.